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O refluxo pode ser causado por diversos fatores - (crédito: Reprodução/ Pinterest)
Caracterizada pela sensação de queimação e dores no peito e garganta, o refluxo é uma doença crônica digestiva em que o conteúdo do estômago, de forma involuntária, faz o caminho inverso e acaba retornando para o esôfago. Segundo a Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva e Neurogastroenterologia (SBMDN), cerca de 12% a 20% da população brasileira sofre com o refluxo gastroesofágico, um dos diagnósticos mais comuns na gastroenterologia.
A doença pode ser causada por uma falha anatômica, pelo mau funcionamento da válvula que fica entre o estômago e o esôfago (esfíncter esofagiano), por uma fragilidade das estruturas musculares , ou devido à presença de uma hérnia de hiato. Além disso, situações de estresse e ansiedade podem aumentar a acidez gástrica e causar uma piora dos sintomas.
Tipos
-Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE)
Quando todo o processo de retorno do ácido do estômago ou a bile no tubo alimentar se torna crônico, pode indicar o refluxo gastroesofágico, que é o tipo mais comum de refluxo.
-Doença do refluxo laringofaríngeo (DRLF)
Também conhecido como refluxo silencioso, a DRLF ocorre pelo mesmo processo mas acaba atingindo áreas mais altas, como a laringe e a faringe. Por não causar sintomas típicos do refluxo como a azia, o diagnóstico acaba se tornando mais difícil.
Gestantes e pessoas acima do peso estão mais propensos a desenvolverem o refluxo, afirma Mario Kondo, médico gastroenterologista do Hospital Sírio-Libanês
Sinais e Sintomas
Segundo Gustavo Lara, otorrinolaringologista e professor de Medicina na Universidade Católica de Brasília, os sintomas se diferenciam de acordo com o tipo:
-No RGE, o conteúdo do estômago reflui para o esôfago, geralmente causando sintomas clássicos, como azia, dor de estômago e regurgitação.
-Já no RLF, os sintomas incluem rouquidão, tosse crônica, pigarro frequente, e, em alguns casos, dificuldade para engolir. Isso ocorre porque as estruturas da garganta são mais sensíveis ao ácido gástrico do que o esôfago.
Sentir, em momentos pontuais, os sintomas de refluxo é relativamente normal e pode acontecer com pessoas de todas as idades. Mas quando a condição se torna crônica — ou seja, acontece com frequência — é preciso realizar um acompanhamento médico. Se não for corretamente tratado, pode evoluir para graves complicações de saúde.
Em bebês
A regurgitação pela boca e às vezes pelo nariz do bebê, a famosa “golfada”, é muito comum em bebês, principalmente nos primeiros meses de vida, por conta da imaturidade do sistema digestivo. Na maioria dos casos desaparece ao decorrer da vida da criança, mas se persistir além dos 12 meses, pode significar algo mais sério.
Alguns bebês diagnosticados com a doença do refluxo gastroesofágico podem apresentar problemas respiratórios devido ao refluxo de alimento e suco gástrico até as narinas e os pulmões. Em alguns casos mais sérios, as fórmulas especializadas, de antirregurgitação (AR), podem ser sugeridas pelos profissionais.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda alguns cuidados e técnicas para prevenir o refluxo em bebês, como:
– Mantê-los inclinados para mamar, com a cabeça mais alta que o tronco.
– Após a amamentação, fazê-los arrotar, mantendo-os em pé, sem balançar ou dar tapinhas nas costas.
– Evitar banhos e trocas de fralda logo após as mamadas.
– Evitar fraldas e roupas apertadas, que comprimam o abdômen do bebê.
Complicações
Com o passar do tempo, se os sintomas não forem tratados, podem surgir diversas complicações, como:
- Esofagite, uma inflamação no esôfago.
- Esôfago de Barrett, que tem o potencial de se transformar em um câncer de esôfago se não tratado de forma adequada.
- Úlceras.
- Estenose de esôfago, uma condição onde há redução do calibre do esôfago, que ocasiona engasgos frequentes.
- Laringite crônica.
- Apneia do sono, que estão relacionados e podem ocorrer simultaneamente.
Tratamento
O tratamento para ambos os tipos pode ser clínico, com a administração de medicamentos, cirúrgico, ou apenas com a mudança de hábitos, variando de acordo com a gravidade do diagnóstico. “Fazer refeições menores e mais frequentes, evitando grandes volumes de comida de uma vez, e manter um peso saudável, já que o excesso de peso pode aumentar a pressão no abdômen e favorecer o refluxo”, sugere o otorrino.
Palavra do especialista
Quem está mais propenso a desenvolver refluxo? Existem fatores de risco específicos?
Os fatores de risco relacionados à doença do refluxo gastroesofágico são obesidade, que aumenta a pressão intra-abdominal, comer rápido, além de doenças como diabetes e hipotireoidismo que podem causar uma lentidão no esvaziamento do estômago.
Existem mudanças no estilo de vida que podem ajudar a controlar o refluxo?
Elevar a cabeceira da cama; cessar o tabagismo; cessar o consumo de álcool; evitar a ingestão de alimentos antes de se deitar para descansar; evitar alimentos que possam piorar os sintomas de refluxo como frituras e evitar o decúbito lateral direito para repouso.
Quais alimentos e bebidas são mais propensos a piorar os sintomas do refluxo?
É aconselhável para os pacientes observarem e, consequentemente, eliminarem alimentos que podem desencadear sintomas como os alimentos gordurosos, frituras, refrigerantes, alimentos picantes, chocolate, café e tomate, por exemplo.
Dra. Daniela Carvalho é médica gastroenterologista da clínica GastroCentro
*Estagiária sob a supervisão de Ailim Cabral
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Quando os sintomas de refluxo se tornam crônicos, é necessário acompanhamento médicoFoto: Reprodução/ Freepik
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É recomendado fazer o bebê arrotar após as mamadas para evitar a regurgitação
Loanne Guimarães