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Ansiedade por separação resulta em despedida angustiante entre tutor e cão

Ansiedade por separação resulta em despedida angustiante entre tutor e cão

Data de Publicação: 23 de junho de 2024 04:52:00 Muito comum entre cachorros, a síndrome tem consequências emocionais no tutor e no animal. Saiba quais são os principais sinais e como prevenir

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INÍCIOREVISTA DO CORREIO

A ansiedade por separação é extremamente comum entre cães e pode ter vários fatores influenciadores -  (crédito: Reprodução Unsplash/ Karstenwinegeart)

A ansiedade por separação é extremamente comum entre cães e pode ter vários fatores influenciadores - (crédito: Reprodução Unsplash/ Karstenwinegeart)

Não é de hoje que a relação entre humanos e cachorros deixa um legado de amor, histórias e famílias, e apesar de pura e genuína, pode, muitas vezes, demonstrar traços tóxicos. Casos de dependência do cão em relação ao tutor são mais comuns do que se imaginam, e as consequências podem afetar o bem-estar de ambos. 

Se ao sair de casa o cachorro fica angustiado, latindo, arranhando portas e, ao voltar para casa, alguns objetos estão destruídos, ele pode estar com um quadro de ansiedade por separação. Basicamente, o amigo de quatro patas fica tão triste e angustiado com a ausência do tutor que ele se comporta de forma destrutiva.

“É uma resposta comportamental exacerbada do cão frente a uma situação rotineira, que é a ausência do tutor em casa”, afirma o veterinário Daniel Cherchi. Segundo ele, a síndrome é bastante frequente em animais filhotes ou jovens de raças extremamente ativas.

Os principais sintomas podem incluir latidos, uivos e choros persistentes, tentativas de escapar de casa, urinar ou defecar em locais inadequados, mastigar móveis, arranhar portas e destruir objetos, automutilação, respiração ofegante, salivação e tremores. Segundo Daniel, em casos mais severos, pode-se desenvolver problemas crônicos, como vômitos e lambedura excessiva dos membros. 

“Certos cães podem desenvolver ansiedade por separação devido a uma combinação de fatores genéticos, ambientais e experiências passadas”, explica a médica veterinária Marina Tiba. Segundo ela, cães resgatados ou que passaram por vários donos podem ser mais suscetíveis à síndrome, assim como aqueles que passaram por experiências traumáticas, como mudanças repentinas na rotina e de residência, e perda de um membro da família.

Outro fator influente é a socialização do animal. “Cães que não foram socializados adequadamente durante o período crítico de desenvolvimento podem ter dificuldade em lidar com a ausência do tutor”, afirma Marina. De acordo com a veterinária, alguns cachorros podem ser naturalmente mais ansiosos e dependentes dos tutores.

 

SAIBA MAIS

 

Separação traumatizante

Paola Bracho, uma cadela de 5 anos, foi resgatada das ruas ainda filhote e passou para um lar temporário, onde saltou de casas em casas durante quatro meses. Após três tentativas de adoção, Paola encontrou um lar na família da adestradora Bruna Rafaela, 37, que acolheu e cuidou da cadela.

Em 2019, Bruna passou um final de semana fora e deixou a cachorrinha com os amigos. No terceiro dia ausente, a tutora foi avisada que a porta da sala estava toda arranhada. Foi o primeiro sinal da angústia de Paola. O episódio se repetia toda vez que a cadela ficava sozinha em casa. “Ao chegar, ela ficava exaltada, pulava, chorava e latia, ao ponto de engasgar-se”, conta Bruna. 

Em qualquer saída dos tutores, por mais curta que fosse, Paola já se dirigia à porta da sala e aguardava ansiosamente o retorno. Em um dos episódios, a cadela machucou as patas gravemente de tanto arranhar a porta. “As patas e a boca estavam ensanguentadas”, afirma Bruna. “Ela estava ofegante, chorosa e desesperada.”

A ansiedade pela separação é angustiante e de cortar o coração, e o sofrimento é de ambas as partes. “Eu não podia sair sem ficar angustiada, não conseguia relaxar fora de casa”, declara a tutora. 

 

Bruna Rafaela e a cadela Paola Bracho(foto: Arquivo Pessoal)

 

Prevenção e tratamento

Para evitar a síndrome, o veterinário Daniel Cherchi recomenda ações que visam a redução de comportamentos atrelados à ansiedade dos animais. “Utilizando técnicas de enriquecimento ambiental, atividades físicas e o adestramento propriamente dito”, detalha. 

Socializar o cachorro desde filhote e acostumá-lo desde cedo a ficar sozinho são algumas das ações preventivas. Segundo Daniel, para acostumar o cão a ficar sozinho é fundamental a criação de um ambiente seguro e confortável, evitando elementos que podem se tornar um risco à integridade do pet. 

“Comece com períodos curtos e, gradualmente, aumente o tempo, sempre associando a experiência a algo positivo”, aconselha Marina Tiba, veterinária. Para ela, estabelecer uma rotina regular é crucial para evitar ou aliviar a ansiedade. “Cães se sentem mais seguros e calmos quando sabem o que esperar”, afirma. “Rotinas consistentes de alimentação, passeios e períodos de descanso ajudam a proporcionar uma sensação de estabilidade e segurança.”

Identificados os sinais e feito o diagnóstico, o tratamento consiste em acompanhamento com veterinário e adestrador. Ações como gradualmente ir acostumando o cão a ficar sozinho e associar a separação a algo positivo, com brinquedos e petiscos, e não punir o cão por comportamentos relacionados à ansiedade por separação podem auxiliar no tratamento. 

Marina também aconselha o uso de feromônios. “Produtos como difusores ou colares que liberam feromônios sintéticos podem ajudar a reduzir a ansiedade do cão em situações de separação”, afirma a veterinária. De acordo com Daniel, é importante evitar comportamentos que reforcem a ansiedade do cachorro, como recepções extremamente calorosas, despedidas prolongadas e ações que sinalizam a despedida por longos períodos.

A melhora depois do caos

Ao levar Paola ao veterinário após se machucar, a tutora Bruna Rafaela recebeu do médico veterinário o alerta de que era um possível caso de ansiedade por separação, diagnóstico confirmado pelo adestrador, que deu as devidas orientações. “Eu trabalhei e pratiquei os exercícios recomendados com ela ao longo de 12 meses”, conta.

Além do acompanhamento profissional, a tutora começou a passear com a cadela todos os dias e criou uma área segura e relaxante para ela em casa. Paola melhorou de forma significativa. Hoje, em vez de sofrer e arranhar a porta, a cadela se dirige ao local seguro para descansar.

 

A cachorrinha Paola sofreu de ansiedade por separação durante muito tempo. A situação era angustiante tanto para ela quanto para os tutores(foto: Fotos: Arquivo Pessoal )

 

“Esse processo de recuperação da minha Paola foi muito gratificante. Isso gerou em mim uma vontade de ajudar outros tutores e seus cães a terem uma vida mais equilibrada e feliz. Por isso, decidi me tornar cuidadora e adestradora comportamental de cães”, finaliza Bruna.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

 

  • A ansiedade por separação é extremamente comum entre cães e pode ter vários fatores influenciadores

    A ansiedade por separação é extremamente comum entre cães e pode ter vários fatores influenciadoresFoto: Reprodução Unsplash/ Karstenwinegeart

  • Latido, uivos e choros exacerbados, e ficar esperando o retorno do tutor são alguns dos sinais de ansiedade por separação

    Latido, uivos e choros exacerbados, e ficar esperando o retorno do tutor são alguns dos sinais de ansiedade por separaçãoFoto: Reprodução Pinterest

  • Bruna Rafaela e a cadela Paola Bracho

    Bruna Rafaela e a cadela Paola BrachoFoto: Arquivo Pessoal

  • A cachorrinha Paola sofreu de ansiedade por separação durante muito tempo. A situação era angustiante tanto para ela quanto para os tutores

    A cachorrinha Paola sofreu de ansiedade por separação durante muito tempo. A situação era angustiante tanto para ela quanto para os tutoresFoto: Fotos: Arquivo Pessoal

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