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postado em 02/03/2025 06:00 / atualizado em 02/03/2025 12:51

Crescimento nos salários iniciais foi impulsionado pelo aquecimento do mercado, de acordo com a Firjan - (crédito: Maurenilson Freire)
Júlia Christine*
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) divulgou, em fevereiro, um estudo nacional que mapeia as profissões com os melhores salários iniciais no Brasil. O levantamento destaca que os engenheiros continuam dominando o mercado de trabalho, com destaque para a área de engenharia de computação, cuja remuneração média inicial é de R$ 13.794. Outros setores com altos salários de admissão são engenharia de minas (R$ 13.055), direção de espetáculos (R$ 11.716), engenharia química (R$ 11.181) e engenharia mecânica (R$ 10.838).
Outro destaque é o crescimento nos salários iniciais, impulsionado pelo aquecimento do mercado. O salário médio de admissão no país registrou alta de 2% em 2024, alcançando o valor de R$ 2.178, o que reforça a tendência positiva observada nos últimos anos. "Comparado com o cenário anterior, esse é o ano em que estamos vendo os maiores salários, e isso está em linha com a menor taxa de desemprego no país", destaca Jonathas Goulart, gerente de Estudos Econômicos da Firjan.

De acordo com Goulart, setores como tecnologia e infraestrutura têm sido os grandes responsáveis por esse aumento. "Os setores que exigem maior capacidade técnica naturalmente acabam tendo exigências salariais maiores, principalmente, pela falta de profissionais capacitados. A demanda por trabalhadores da área de tecnologia cresceu muito nos últimos anos com o avanço das mídias digitais. Como a oferta ainda é menor do que a demanda, os salários desses profissionais acabam sendo mais altos", explica.
Também foi levado em conta o impacto da inflação sobre as remunerações, ou seja, foram considerados os salários reais descontando o efeito inflacionário. "A inflação dos salários é fruto desse desequilíbrio entre oferta e demanda. Há muita procura por profissionais qualificados, mas a quantidade disponível ainda é baixa, o que acaba gerando essa valorização salarial", detalha o gerente.

A pesquisa é realizada anualmente utilizando dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho. Diferentemente de outros levantamentos da Firjan, essa não define previamente as profissões a serem analisadas. "Nós olhamos os dados e vemos quais foram as profissões que tiveram os maiores salários. A partir daí, fazemos esse ranking olhando todas as ocupações que existem no Cadastro Brasileiro de Ocupações (CBO). O critério é uma análise técnica das profissões com os maiores salários."
Para os próximos anos, a expectativa é de um crescimento mais moderado nos salários iniciais, porém mantendo a valorização das profissões técnicas. "Provavelmente, teremos um mercado de trabalho mais equilibrado, com a oferta se igualando à demanda. O crescimento dos salários pode ser um pouco menos acelerado do que em 2024, mas profissões altamente técnicas continuarão sendo bem valorizadas", conclui Goulart.
Ensino superior

Antônio Rocha Pinheiro, 17 anos, passou em 2º lugar no Programa de Avaliação Seriada (PAS) para a Universidade de Brasília (UnB) e, em 24 de março, começará a cursar engenharia química, que ocupa o quarto lugar no ranking da Firjan. Ele escolheu essa área atraído pelas oportunidades, além do gosto por ciências.
"Eu sempre gostei muito de ciências, desde pequeno, e sempre fui bem em química na escola. Isso foi um fator determinante para a escolha. Também pesquisei sobre o mercado de trabalho e o que me chamou a atenção foi a variedade de áreas nas quais eu poderia atuar", explica.
Embora não soubesse, inicialmente, sobre os altos salários da profissão, ele considera isso um "bônus", mas não um fator determinante. "Eu não sabia que a engenharia química estava entre os cursos com os maiores salários iniciais. Isso foi uma surpresa, mas não mudou minha expectativa sobre a formação", diz.
Ingresso no mercado

Igor Davi Moraes, 25, está prestes a concluir sua graduação em engenharia da computação na UnB. Ele iniciou a trajetória acadêmica em engenharia mecânica em 2018, mas ao perceber que o curso não atendia a suas expectativas práticas e que muitos colegas abandonavam o curso na metade da trajetória, decidiu fazer a transferência para a computação, área que sempre o atraiu pela alta demanda no mercado de trabalho.
"A escolha pela engenharia da computação foi, em parte, pelo gosto e, em parte, pela necessidade de um futuro mais estável. Percebi que a maioria das pessoas formadas em áreas, como mecatrônica, foram trabalhar com computação, porque é o que o mercado exige. Isso me motivou a fazer a mudança", explica Igor.
Além disso, ele compartilha a visão de que a engenharia da computação tem um grande potencial financeiro. "O salário inicial é um fator determinante. Eu sempre gostei de tecnologia, mas, claro, ganhar bem todo mundo quer", brinca. Agora, o formando tem planos de continuar se especializando, em busca de pós-graduação e novas certificações.
Experiência

Apesar dos altos salários mencionados na pesquisa, a realidade pode ser diferente para muitos profissionais. O diretor teatral Nando Villardo, que trabalha na área há mais de 33 anos, destaca que o valor citado no levantamento se aplica a casos específicos. "Na verdade, esse valor é para diretores de espetáculos que têm patrocínio. No meu caso, esse valor está muito acima da realidade, pois não temos patrocinadores. Mas acho que, pelo tamanho da responsabilidade, esse valor (da pesquisa) ainda é baixo", defende.
Nando começou sua trajetória no teatro como ator, depois se tornou produtor e, só então, diretor. Ao lado da esposa, Alcinéia Paz, conhecida como Neia, fundou a companhia Neia & Nando Cia Teatral, que há décadas realiza espetáculos e forma novos talentos no teatro.
Para ele, a paixão pela cultura é o que mantém os profissionais na área, muito mais do que o dinheiro. "Pode ser que o salário atraia, sim, mas o 'fazer teatral' está muito mais ligado à paixão do que ao dinheiro", afirma.
Pensando no futuro, ele tem expectativas de que sua companhia conquiste apoiadores em breve, garantindo melhores condições para toda a equipe envolvida. "Eu espero que, nos próximos anos, a minha Cia tenha um patrocínio e que consigamos pagar não só o diretor, mas os atores e toda a parte técnica com um salário compatível a sua responsabilidade", compartilha.
*Estagiária sob a supervisão de Marina Rodrigues