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Incêndios criminosos avançam no Cerrado

Incêndios criminosos avançam no Cerrado

Data de Publicação: 12 de setembro de 2024 07:29:00 Com as chamas que tomam conta do continente, o segundo maior bioma do Brasil registrou 3,5 mil pontos de queimada em 48 horas

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MEIO AMBIENTE

 

Incêndio na zona rural de Pirapora (MG) é exemplo da devastação no Cerrado. O Brasil lidera o ranking de queimadas na América do Sul
 -  (crédito:  Alexandre Guzanshe/Estado de Minas)

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Incêndio na zona rural de Pirapora (MG) é exemplo da devastação no Cerrado. O Brasil lidera o ranking de queimadas na América do Sul - (crédito: Alexandre Guzanshe/Estado de Minas)

Segundo maior bioma do país, o Cerrado, que tem sua efeméride celebrada em 11 de setembro, registrou, ontem, um dado alarmante: em 48 horas, surgiram mais de 3,5 mil pontos de queimadas, correspondentes a 43,8% do total de focos registrados no Brasil. Atrás apenas da Amazônia, com 50%.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Brasil lidera o ranking de queimadas na América do Sul, com mais de 8 mil focos de incêndio nas últimas 48h, o que representa 55,2% do total de queimadas no continente.

Especialistas ouvidos pelo Correio indicam tratar-se de incêndio criminoso, assim como voltou a afirmar, ontem, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. A professora de ecologia da Universidade de Brasília e pesquisadora da rede biota Cerrado, Isabel Schmidt, afirma que as ocorrências de queimadas na época da seca, no Cerrado, não são naturais ou normais. “Queimada no Cerrado, no período de maio a setembro é causado por ação humana. Queimadas no Cerrado acontecem por causa da incidência de raios em períodos de chuva. Sem chuvas não era para haver incêndio”, argumenta.

As mudanças climáticas e os períodos de seca prolongados estão, aos poucos, eliminando a vida da vegetação. Uma pesquisa realizada pelo MapBiomas mostrou que o Cerrado é o segundo bioma que mais perdeu vegetação nativa nos últimos 39 anos (27%), ficando atrás apenas do Pampas (28%).

Ao longo do período de quase duas décadas, 88 milhões de hectares de Cerrado foram atingidos pelo fogo, o que devastou 9,5 milhões de hectares de vegetação nativa. Ao todo, o Cerrado perdeu 38 milhões de hectares devido ao aumento das mudanças climáticas.

A professora aponta que a degradação, não só pelo fogo, mas também pelo desmatamento, chega a ser maior e mais preocupante que a da Amazônia. “A cobertura vegetal do Cerrado consegue ser destruída muito mais rápido, porque são pastos secos, onde as queimadas são mais difíceis de controlar.

O desmatamento do Cerrado está pior que o da Amazônia, mas o mundo não olha para o Cerrado que é o coração das águas do Brasil, pelo grande número de nascentes”, diz. De acordo com o INPE, o estado do Mato Grosso, composto boa parte pelo Cerrado, apresenta o maior número de focos de incêndio do país, com quase 2,9 mil pontos de fogo no estado, o que representa 35,6% de todos os incêndios no país. Parte considerável desses incêndios estão relacionados com o aumento de campos de pastagem para gado e para agricultura, que são feitos com a queima do solo.

O MapBiomas calculou que 500 mil hectares de Cerrado que foram perdidos ao longo dos anos eram áreas úmidas que foram queimadas e substituídas por pastagem. A professora lembra que existem benefícios no uso do fogo, mas de maneira responsável e prudente. Schmidt explica que a melhor maneira de diminuir as queimadas de se espalhar é com a técnica de Manejo Integrado do Fogo (MIF).

“Em determinadas épocas do ano, em que não começou o pior período da seca e o solo ainda está um pouco úmido, são queimadas áreas específicas para conseguir evitar a propagação de possíveis incêndios mais para frente. O problema é que essa técnica ainda é muito pouco usada, apenas dentro de áreas de conservação”, conta.

La Niña

Em um período de estiagem severa, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) da Organização das Nações Unidas (ONU) alertou, ontem, que o fenômeno La Niña, famoso por diminuir as temperaturas, irá atrasar e poderá não chegar ainda este ano. De acordo com a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, mesmo que ocorra o fenômeno de resfriamento, isso não mudará a trajetória de aumento das temperaturas globais.

“Desde junho de 2023, temos observado uma sequência prolongada de temperaturas excepcionais na superfície terrestre e marítima global. Mesmo que ocorra um evento de resfriamento de curto prazo, isso não mudará a trajetória de longo prazo do aumento das temperaturas globais devido aos gases de efeito estufa na atmosfera”, disse.

Além disso, Saulo ainda disse que, mesmo em condições neutras, eventos climáticos extremos continuam a persistir. “Nos últimos três meses, as condições neutras prevaleceram — nem El Niño nem La Niña. No entanto, ainda vimos condições climáticas extremas generalizadas, incluindo calor intenso e chuvas devastadoras”, pontua.

Cuidado com a saúde

Durante uma coletiva de imprensa, a ministra da saúde Nísia Trindade anunciou medidas para a população enfrentar a seca e as queimadas com mais segurança e saúde.

Problemas cardiovasculares e respiratórios são comuns em momentos com muita fumaça e fuligem, assim, o Ministério da Saúde recomenda a distribuição de água, além de montar pontos de hidratação e nebulização nos locais mais afetados pelas queimadas.

As orientações para se proteger da fumaça incluem a ingestão de líquidos, a redução do tempo de exposição ao ar livre, manter as portas e janelas fechadas, evitar atividades físicas ao ar livre em horários quentes e secos, entre outras medidas que diminuam os riscos de doenças respiratórias.

A ministra orientou o reforço nos atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para pessoas que chegam com mal estar, como tontura e vômitos devido à secura.

O secretário de Atenção Primária à Saúde, Felipe Proenço, destacou o aumento de atendimentos no Sistema Único de Saúde desde o começo das queimadas. “Em Goiás, houve um aumento de 46% de queixas de náuseas. No Mato Grosso, foi de 58%, e o número dobrou no Distrito Federal. Em Tocantins, o aumento foi de 190%”, disse.

Nísia também pontuou a importância de cuidar da saúde de quem está na linha de frente no combate ao fogo. “Sabemos que há efeitos sensíveis em curto e longo prazo. Há um aumento do risco de problemas cardiovasculares e respiratórios, os mais agudos neste processo, e, em locais perto das queimadas, o risco de intoxicação pela fumaça. Por isso, também vamos fazer monitoramento da saúde dos brigadistas florestais”

*Estagiária sob a supervisão de Edla Lula

 

Foto de perfil do autor(a) Maria Beatriz Giusti

Maria Beatriz Giusti* 

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