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Dispositivo vestível auxilia pessoas com dificuldades de locomoção

Dispositivo vestível auxilia pessoas com dificuldades de locomoção

Data de Publicação: 18 de setembro de 2023 07:19:00 Aparelho criado por cientistas americanos funciona à base de ar pressurizado e poderá ajudar pessoas com deficiência a se locomoverem. Em teste, usuária interpretou as orientações repassadas pelo dispositivo com 100% de precisão

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Amanda Gonçalves*

Também conhecida como feedback tátil, a tecnologia háptica é muito comum em sistemas de realidade virtual, uma vez que permite aumentar a experiência de imersão de um usuário por meio da sensação de calor ou vibração, por exemplo. Buscando ampliar essa possibilidade de uso para um contexto assistivo, pesquisadores da Universidade Rice, nos Estados Unidos, desenvolveram dispositivos vestíveis que funcionam como ferramentas de navegação silenciosa para auxiliar a mobilidade de pessoas com dificuldades de locomoção, como aquelas de baixa visão ou perda auditiva.

 

A solução tecnológica tem formato de um relógio de pulso e mangas que podem ser presas por fechos de velcro e são facilmente ajustáveis em cada braço. Além disso, é feita de tafetá de nylon revestida com uma fina película de poliuretano termoplástico (TPU), um material flexível e termicamente resistente. Pode ser conectada ao celular do usuário para transmitir as informações de direção. A ideia é de que ela “bata” no pulso do usuário com ar pressurizado, o ajudando silenciosamente a navegar até seu destino.

Quando submetida ao calor e ao aumento de pressão fornecido por um cilindro portátil de gás carbônico (CO2), uma região retangular nos tecidos do vestível é inflada, indicando qual caminho o usuário deve percorrer. “Ao utilizar pressão de ar, em vez de correntes eletrônicas, por exemplo, podemos incorporar alguns controles complexos diretamente aos tecidos que formam nossos dispositivos. O sistema de controle externo da tecnologia é bastante reduzido, em comparação a outras alternativas volumosas, e pode ser guiado por um simples aplicativo de navegação no celular ou no carro”, detalha Barclay Jumet, principal autor do estudo.

Segundo o pesquisador, a equipe escolheu trabalhar com tecidos nylon porque são facilmente fabricados e adquiridos em grande escala, o que também possibilita que a produção do dispositivo seja de baixo custo. “Nossos dispositivos são feitos de tecidos disponíveis comercialmente e fabricados com ferramentas comuns. Eles também podem ser facilmente consertados com um ferro de passar roupa se estiverem perfurados ou rasgados. Algumas versões custam menos de US$ 5,00”, conta.

O desempenho do aparelho foi testado, inicialmente, em um laboratório com 14 pessoas. Os participantes utilizaram fones de ouvido para evitar algum retorno auditivo que pudesse ajudá-los externamente e tiveram os braços cobertos por uma folha opaca, para evitar algum tipo de indicação visual. Os resultados, publicados recentemente na revista Device, mostram que os usuários interpretaram corretamente a direção indicada pelo vestível com 87% de precisão.

 

Mundo real

Os pesquisadores decidiram, então, navegar em um cenário do mundo real. Para isso, integraram ao dispositivo portátil duas mangas, que foram anexadas a uma camisa, e completaram com um cinto, no qual fixaram componentes auxiliares do aparelho. Uma voluntária experimentou o conjunto em três situações: andando, correndo e utilizando um patinete. Em todas elas, não tinha conhecimento do trajeto que deveria percorrer. As dicas táteis foram enviadas a partir das rotas indicadas pelos dados do Sistema de Posicionamento Global (GPS) instalado em seu celular.

A participante interpretou as informações com 100% de precisão, mesmo enquanto operava o patinete sobre tijolos pavimentados, calçadas de concreto e caminhos de cascalho que induzem vibrações. A versatilidade também é uma característica da composição do aparelho, segundo Jumet. “Felizmente, nossa plataforma baseada em têxteis é facilmente adaptável e ajustável a uma variedade de tipos e tamanhos de corpo.”

Obstáculos

Professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB), Geovany Araújo Borges explica que, apesar do potencial, a tecnologia háptica ainda é incomum para uso em acessibilidade, uma vez que dispositivos com essas soluções são mais difíceis de serem projetados. “Já encontramos tecnologias hápticas em vários segmentos, como interfaces de comando de robôs para cirurgia ou em aviões. No entanto, é verdade que, como tecnologia assistiva, interfaces hápticas vestíveis ainda estão em desenvolvimento.”

Esse é, segundo Borges, justamente um dos pontos limitantes do dispositivo proposto pelos cientistas americanos. Além disso, avalia o professor da UnB, é preciso aprimorar a captação simultânea de localização para a indicação dos trajetos. “O sistema utilizado não é muito grande, mas ainda é muito lento, comparado a outros tipos de interface. Esse tipo de situação limita a aplicação dos dispositivos em ambientes que envolvem algum tipo de risco”, explica.

 

Para Euclides Chuma, membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), os aparelhos poderão auxiliar indivíduos com deficiências visuais e auditivas. “A tecnologia pode ser útil na fabricação de roupas e acessórios para que pessoas com algum grau de dificuldade consigam compreender estímulos visuais ou acústicos ou para ser usada em ambientes com pouca visibilidade e muito ruído sonoro. Ela também parece ser promissora para mergulhadores”, indica.

Os criadores acreditam que os vestíveis também poderão beneficiar amputados que usam próteses e profissionais que executam movimentos muito especializados que demandam informações visuais e auditivas, como cirurgiões, pilotos e soldados. “O desenvolvimento futuro buscará melhorar a capacidade de transmitir sinais ainda mais complexos que permaneçam fáceis e naturalmente discernidos pelo usuário”, indica, em nota, Daniel Preston, autor correspondente do estudo.

Aplicações variadas

"O tato pode ser usado como meio de comunicação, quer seja para a máquina se comunicar com indivíduo, quer seja para o indivíduo dar algum comando ou passar alguma informação para a máquina. É o caso de pessoas que usam prótese de mão e não têm uma sensação de contato. Com uma tecnologia háptica, elas poderiam manipular um objeto. Esses dispositivos criados na Universidade Rice poderiam ser usados como tecnologia assistiva, com sensores visuais que detectariam perigo enquanto um cego se desloca pela rua e uma interface háptica que informaria antecipadamente o tipo de perigo iminente. Uma roupa vestível dotada de sensores do quadro de saúde poderia sinalizar para um paciente que utiliza prótese de mão o grau de dureza ou de suavidade de um objeto sendo manipulado. As aplicações são as mais diferentes, e a evolução da tecnologia é que vai permitir novas aplicações."

Geovany Araújo Borges, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB)

*Estagiária sob a supervisão de Carmen Souza

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