Iandara Pimentel Santana*
Imagina, de repente, por alguns instantes, ficar com a cabeça e os membros paralisados, como se estivesse morto? A catalepsia é um distúrbio pouco conhecido e está relacionado a doenças neurológicas e medicamentos. “O que acontece dentro do corpo é que há um estado de rigidez muscular em que o paciente não consegue movimentar o corpo, ele também não consegue se expressar de maneira alguma, nem se comunicar ou mexer os olhos”, explica o neurologista especialista em Parkinson, dor e sono Willian Rezende do Carmo.
O estado de catalepsia pode durar, em média, poucos minutos ou se alongar por dias, se não houver intervenção médica. “Se foi por uma intoxicação medicamentosa, por um medicamento de depósito, a pessoa pode ficar em um estado de rigidez que vai demorar, porque o efeito do remédio vai demorar a passar. E se for alguma de origem psiquiátrica, por exemplo, pode passar tão prontamente quanto veio, mas também varia”, pontua Willian.
Para prevenir possíveis crises, é necessário investigar e entender os fatores do problema do paciente. “Por exemplo, para um paciente que teve catalepsia medicamentosa, não dar novamente o medicamento que causou aquilo. Já para paciente psiquiátrico, o certo seria tratar a condição psiquiátrica subjacente.”
Causas
A catalepsia ou catatonia, como também é conhecida, pode ser desencadeada por diversos fatores, mesmo que ainda não seja totalmente compreendida. Doenças psiquiátricas e neurológicas, como esquizofrenia e epilepsia, podem gerar o quadro, além de medicamentos para essas patologias. De acordo com a especialista em medicina do sono Núbia Cardoso, há alguns remédios mais comuns que podem causar reação da catatonia. “Aloperidol, ministrado para tratar doenças principalmente psiquiátricas, e ketamina, anestésico usado para alguns estados de depressão profunda”, cita Núbia. Além disso, doenças psiquiátricas podem gerar esse estado, em crise não medicada, como são chamadas, como crise bipolar ou esquizofrenia.
Além disso, doenças demenciais, como Parkinson, ou condições que levam ao parkinsonismo podem causar a catatonia. A quantidade de sono também é um fator. Se a pessoa fica vários dias sem dormir ou dormindo muito pouco, ela pode desenvolver um episódio. ”Mas é algo raro, o mais comum é associado à medicação ou às doenças”, completa Núbia.
A questão genética também é um fator de risco, relacionado a um certo desequilíbrio nos neurotransmissores e receptores cerebrais.
Sintomas
Além dos sintomas clássicos citados, como rigidez e perda de movimentos, há outros sinais presentes na condição. “É um estado como se fosse de hibernação, de redução do metabolismo. A respiração e o batimento cardíaco ficam lentos”, detalha Núbia Cardoso. Segundo a médica, a temperatura corporal pode cair um pouco também, mas não chega a ficar gelada.
A pessoa que entra nesse estado pode ou não ter consciência da situação. “Dependendo da causa, se a pessoa tiver uma demência avançada, por exemplo, não tem consciência; mas se for por medicação, a pessoa pode estar ouvindo tudo e entendendo, mas não consegue se movimentar”, afirma Núbia. Em alguns casos, esse conjunto de características pode causar a impressão de que a pessoa está morta, mas conhecendo os sintomas da condição, e por meio de equipamentos médicos, é possível diferenciar.
Tratamento e prevenção
Durante a catalepsia, é importante tomar algumas medidas para a volta dos movimentos para a pessoa. “A primeira coisa é fazer o que chamamos de estímulo vagal no paciente, que é apertar forte o esterno, esse osso do meio do tórax. Essa é medida mais segura e fácil a ser feita por leigos”, recomenda Núbia. Além disso, tampar o nariz e a boca por alguns segundos, causando alteração de oxigênio no corpo, pode ajudar na interrupção da crise.
Existem também medidas médicas para estimular o corpo caso seja causado por overdose de remédios ou drogas, como lavagem a gástrica, hidratação e glicose. Para aqueles estados de catatonia causados por falta de remédio, o caminho é outro. ”Por exemplo, se é o paciente parkinsoniano, ficou totalmente sem os remédios e acabou totalmente rígido, o tratamento é dar o medicamento para ele”, explica Willian Rezende. Assim, o tratamento dependente fundamentalmente do conhecimento da causa originária.
Evitando confusão
A paralisia do sono, fenômeno natural que ocorre depois de a pessoa acordar ou no momento em que se está tentando adormecer, muitas vezes é confundida com o estado de catalepsia, mas não são iguais. “Durante a paralisa, a pessoa acorda e o corpo está parado, mas ela está consciente, sabe o que está acontecendo, só não consegue mexer o corpo” explica Willian Rezende. De acordo com o neurologista, normalmente essa condição benigna, é transitória e a pessoa melhora também, mas é outro exemplo de estado de paralisia do corpo.
Palavra do Especialista
Qual é a faixa etária mais atingida pela catalepsia?
Não existe uma faixa etária mais atingida nem gênero, porque isso depende totalmente da causa da catalepsia da pessoa. Problemas psiquiátricos podem pegar pacientes mais jovens; causas parkinsonianas, pacientes mais idosos; epilépticos podem abranger diversas faixas etárias.
Quais são as complicações da falta de tratamento da catalepsia?
As complicações possíveis de uma catalepsia não tratada é de o paciente ficar com o corpo totalmente paralisado, ele não ingerir água nem comida e, com isso, ficar desidratado, desnutrido, com problemas na questão da evaporação e até mesmo da micção. Pode haver ainda problemas com lesões. Por ficar sempre deitado em uma mesma posição, o estado de contratura muscular de rigidez contínua faz com que lesione os músculos e os tendões.
Há outras condições parecidas com a catalepsia, como a cataplexia. Qual é a diferença entre as duas?
A cataplexia é uma condição que acontece na narcolepsia, que é uma doença de sono excessivo. Nela, a pessoa fica com o corpo totalmente paralisado, ou parte dele, após uma emoção muito forte, como uma gargalhada ou um susto. É uma paralisia, só que, em vez de ser rígida, é flácida, os músculos ficam soltos.
Willian Rezende do Carmo é neurologista especialista em Parkinson, dor e sono.
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