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Câncer: 4 mil anos de tratamento

Câncer: 4 mil anos de tratamento

Data de Publicação: 10 de junho de 2024 07:55:00 Especialmente de uns 15 anos para cá, houve uma revolução nos tratamentos, com a expectativa de que, se não totalmente curáveis, as mais de 100 doenças que chamamos de câncer tornem-se crônicas

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ARTIGO

Câncer: 4 mil anos de tratamento

Especialmente de uns 15 anos para cá, houve uma revolução nos tratamentos, com a expectativa de que, se não totalmente curáveis, as mais de 100 doenças que chamamos de câncer tornem-se crônicas

INÍCIOOPINIÃO

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O crânio de uma mulher apresenta um desgaste sugestivo de câncer: cicatrizes com objeto perfurante sugerem que ela foi tratada e curada  -  (crédito: Fotos: Tondini, Isidro, Camarós/Divulgação )

O crânio de uma mulher apresenta um desgaste sugestivo de câncer: cicatrizes com objeto perfurante sugerem que ela foi tratada e curada  - (crédito: Fotos: Tondini, Isidro, Camarós/Divulgação )

 Há alguns dias, pesquisadores europeus anunciaram uma descoberta fascinante: um crânio de 4 mil anos com sinais que sugerem manipulação cirúrgica para tratar um dos cânceres mais agressivos da atualidade — o de cérebro. Aparentemente, a doença estava presente no antigo Egito, origem do resto mortal. 

No crânio, datado entre 2.687 a.C. a 2.345 a.C, os pesquisadores identificaram 30 metástases. Mas a grande surpresa é que, ao redor das lesões, havia marcas de corte por objeto pontiagudo, como um instrumento médico metálico. O doente, um homem entre 30 anos e 35 anos, não sobreviveu, sugere o estudo. Mas entra para a história como o mais antigo paciente submetido a uma cirurgia oncológica que se tem notícia. 

Com o avanço nas tecnologias de pesquisa arqueológica, é possível que futuros estudos encontrem evidências ainda mais remotas do tratamento cirúrgico do câncer. Por ora, o crânio nos mostra que, há pelo menos 4 mil anos, médicos se dedicam a uma doença desafiadora, descrita pela primeira vez com o nome que tem hoje em um tratado científico do grego Hipócrates (460 a.C.-377 a.C.). 

Durante milhares de anos, pouco se pode fazer pelos pacientes. Somente no século 18 que a maioria dos cientistas se convenceu de que o câncer era uma lesão em um órgão, e não o "desequilíbrio de humores", como se acreditou por anos a fio. Certamente, a compreensão tardia da origem da doença atrasou a busca por terapias eficazes. Porém, ainda que os médicos do passado a entendessem como hoje, não teriam as ferramentas apropriadas para lidar com ela. 

Na semana passada, a Reunião Anual da Sociedade Norte-Americana de Oncologia Clínica (Asco) trouxe novidades animadoras sobre estudos de diversos tipos de câncer. Vinte e nove artigos originais apresentaram resultados de pesquisas próximas da fase final. Algumas delas foram tão positivas que têm potencial de mudar a prática clínica — ou seja, alterar a forma como a doença é tratada atualmente. 

Esses estudos mostram um salto na sobrevida global e na sobrevida livre da doença (tempo em que o paciente continua em remissão) e, na opinião de oncologistas que acompanharam o evento, devem inspirar pesquisas futuras, ainda mais promissoras. No centro das terapias bem-sucedidas, estão as abordagens imunoterápicas: técnicas personalizadas que ensinam ao próprio organismo a eliminar, com eficácia, as células doentes. 

Se, durante 4 mil anos, o câncer foi tratado da única forma possível — geralmente, a remoção, em cirurgias dolorosas e pouco eficazes, do tumor —, os séculos 20 e 21 promoveram um salto na oncologia. 

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Especialmente de uns 15 anos para cá, houve uma revolução nos tratamentos, com a expectativa de que, se não totalmente curáveis, as mais de 100 doenças que chamamos de câncer tornem-se crônicas, com um impacto muito mais baixo na mortalidade. E ainda há quem duvide da ciência.

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