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Perigo na palma das mãos: excesso de tela prejudica os idosos

Perigo na palma das mãos: excesso de tela prejudica os idosos

Data de Publicação: 15 de fevereiro de 2025 08:53:00 Cada vez mais conectadas, pessoas da terceira idade estão expostas a riscos, como a dependência digital, que pode afetar a saúde física e mental desse público que, na sua maioria, vive sozinho e com pouca vida social

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Cada vez mais conectadas, pessoas da terceira idade estão expostas a riscos, como a dependência digital, que pode afetar a saúde física e mental desse público que, na sua maioria, vive sozinho e com pouca vida social

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Gerusa Freire gosta de jogar paciência, baralho e dominó -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

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Gerusa Freire gosta de jogar paciência, baralho e dominó - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

O uso excessivo do celular tem sido amplamente debatido entre crianças e adolescentes, mas um grupo muitas vezes ignorado nessa discussão: o de idosos. Cada vez mais conectados, eles também podem enfrentar problemas decorrentes do tempo excessivo de tela, como impactos na saúde mental, dificuldades de sono e isolamento social. 

Segundo especialistas, o dispositivo pode ser um aliado na terceira idade, permitindo comunicação com familiares, acesso a informações e estímulo cognitivo. No entanto, o uso sem moderação pode levar à redução de interações presenciais, sedentarismo e até vício digital. O especialista em Tecnologia e Inovação Arthur Igreja destaca que o design dos aplicativos é um fator determinante para o tempo prolongado de utilização. "Eles são desenhados para isso. Conforme diversos estudos, cada botão, cor e teste AB feito, é desenhado para estimular gatilhos do cérebro, ter liberação de dopamina, sensação de recompensa e estender o consumo", afirma.

A funcionária pública Gerusa Freire, 69 anos, por exemplo, não abre mão de jogos de smartphone. "Eu gosto de paciência, baralho e dominó. Vou jogando no caminho ao trabalho", explica. Como o trajeto dura cerca de uma hora, ela passa pelo menos duas horas por dia jogando. Para ela, o aparelho, por vezes, traz malefícios, pois distrai o usuário do ambiente ao redor. “Eu procuro ficar atenta ao movimento no ônibus, mas vejo gente que se perde. É muito perigoso”, diz.

O aposentado Valmir Ferreira, 66, mora em Santa Maria e onta que está sempre com o aparelho, principalmente para movimentações financeiras e consumo de notícias. "Preciso estar antenado com o que acontece no mundo. Se você não acompanha as informações, acaba se tornando vulnerável e desinformado, que é o pior", afirma. Ele acredita que o segredo está no equilíbrio: "É preciso ter regras, senão cai na armadilha de passar o dia inteiro no celular."

 

  •  14/02/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Excesso de uso de celular em idosos. Gerusa Freire

    14/02/2025. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Excesso de uso de celular em idosos. Gerusa FreireMinervino Júnior/CB/D.A.Press

  • Entretida com o celular, Maria Coutinho deixou a comida queimar

    Entretida com o celular, Maria Coutinho deixou a comida queimarMinervino Júnior/CB/D.A.Press

 

Jogo da memória

Esse entretenimento, no entanto, pode ter um preço. Priscilla Mussi, coordenadora de Geriatria do Hospital Santa Lúcia, alerta aos impactos cognitivos nos mais velhos. O dependência do celular pode afetar a memória e a concentração, tornando-os suscetíveis à distração e à dependência digital. "As informações são consumidas de maneira superficial e sem conexões emocionais. Isso faz com que sejam esquecidas rapidamente", pontua Mussi.

A aposentada Maria dos Santos, 73, moradora de São Sebastião, teve um episódio marcante que a fez repensar o manuseio do aparelho. "Uma vez fiquei tão entretida e nem vi a panela queimar a comida. Desde então, aprendi. Se não prestar atenção, vicia". Ela não se considera uma usuária intensa, a ponto de passar horas em frente à tela, mas admite que confere o celular em vários momentos do dia. "Fico no máximo 1h, mas meu aparelho tá sempre por perto", diz.

O perfil mais propenso ao uso excessivo na terceira idade inclui quem mora sozinho ou têm pouco suporte social. Esse comportamento interfere diretamente no sono e na socialização. "A luz azul emitida pelas telas deve ser evitada pelo menos duas horas antes de dormir a fim que a melatonina possa atingir seu pico e garantir um sono de qualidade. Entretanto, muitos idosos passam a noite no celular ou na televisão, especialmente porque o sentimento de solidão se intensifica nesse horário", observa a geriatra.

Otávio de Toledo Nóbrega, professor titular da Faculdade de Ciência e Tecnologias em Saúde, reconhece que a tecnologia é uma ferramenta importante para a comunicação, porém alerta que, quando o celular passa a substituir o convívio humano, pode agravar o isolamento social, um problema já comum na terceira idade. “O idoso limita o contato a mensagens curtas, deixando de lado interações mais ricas e significativas”, explica.

Cuidado!

Segundo Mussi, os reflexos do superutilização dos dispositivos pode trazer impactos no bem-estar, tanto física quanto mental. "Na saúde física, o principal problema são as dores musculares e articulares por segurar o aparelho na posição errada por várias horas seguidas. Já no aspecto mental, vemos um aumento da ansiedade associado, além de uma piora cognitiva quando o telemóvel se torna a principal fonte de informação", explica. 

O consumo de fake news e golpes digitais também preocupa, já que muitos idosos não tiveram contato com a tecnologia ao longo da vida e, por isso, podem ser mais vulneráveis. "Internet, smartphone, redes sociais e IA chegaram em um ponto avançado da vida deles. Isso soma-se às próprias questões da idade, visão, audição e até algumas questões cognitivas e torna o cenário bem preocupante", diz Igreja. Para reduzir esses riscos, ele aponta ser fundamental aumentar o conhecimento e a intimidade desse público com a tecnologia.

Mussi ainda recomenda algumas estratégias na redução da dependência digital, como manter o celular longe em momentos de socialização, ativar o modo 'hora de dormir' do aparelho e identificar gatilhos que levam a utilizaçaõ excessiva. Em casos graves, terapias como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e, se necessário, o administração de medicação podem ajudar no controle da compulsão digital. "Pequenas mudanças de hábito podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida", conclui.

Além disso, Igreja destaca que a maior influência vem da convivência familiar. "Convivendo mais, conversando sobre isso. Muitas pessoas não têm nem consciência, mas estamos todos, em medida maior ou menor, desenvolvendo esse vício, essa hipervigilância e hiperconectividade", afirma.

Para Nobréga estratégias para reduzir o tempo de tela sem causar isolamento incluem desde o autogerenciamento, como estabelecer pausas para outras atividades, até soluções coletivas, como a participação em centros de convivência, trabalhos comunitários ou até o retorno ao mercado de trabalho. “O idoso tem que se orgulhar desses serviços e aproveitar as oportunidades de manter-se ativo e conectado ao mundo real”, conclui.

 

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