Renata com sua mãe, Felícia, deixando o hospital: "Temi pelo pior" - (crédito: Letícia Guedes/CB/D.A Press)
Letícia Guedes*
postado em 04/04/2024 04:00
As mulheres têm sido as maiores vítimas da epidemia de dengue no Distrito Federal, em 2024. Dados da Secretaria de Saúde (SES-DF) registram mais de 104 mil casos prováveis de dengue em pessoas do sexo feminino contra cerca de 85 mil do masculino. O Correio conversou com mulheres que, diagnosticadas com a doença, relataram haver sofrido tanto com os sintomas que chegaram a temer por suas vidas.
Para o infectologista André Bon do Hospital Brasília não existe explicação biológica, ou algum estudo científico, que justifique a predileção do Aedes aegypti pelas mulheres. "Um dado clássico na medicina é que mulheres buscam mais atendimento médico do que os homens. Por isso, a possibilidade é de que vai ter mais diagnóstico de dengue entre elas", disse.
Quando se viu vítima da arbovirose (mal causado por insetos) em março passado, a aposentada Rita do Carmo Torres, 67 anos, moradora de Taguatinga, pensou no pior. Os primeiros sintomas (intensa dor de cabeça e contínuos calafrios) indicaram que havia contraído algo que não se parecia em nada ao mesmo diagnóstico que recebeu há dez anos pelo mesmo motivo.
"O meu corpo e a parte de trás dos meus olhos doíam muito. Nada do que eu comia permanecia no meu estômago", contou. Isso a fez procurar o hospital no segundo dia de mal-estar. Teve a confirmação do diagnóstico que vinha acompanhada de uma notícia ruim: suas plaquetas sanguíneas estavam em níveis baixos, numa situação que poderia levá-la à morte se providências rápidas não fossem tomadas. Rita foi internada imediatamente e permaneceu assim até que o quadro se normalizasse. A aposentada admitiu que teve medo de perder a vida devido a complicações com a dengue.
"Eu costumo falar que a dengue é uma doença que te deixa 'morta-viva'. Não dá nem para raciocinar. É como se você já estivesse morta. É terrível", assegurou.
Câmbio de papéis
Renata Morais, 40, agente comunitária de saúde e moradora do Riacho Fundo 2 também relatou que sentiu a mesma angústia de ter a vida ameaçada. Mas, não a dela e sim a de sua mãe Felícia Morais, 72, a quem descreveu como "ativa, orientada e saudável" até antes dela adoecer. A aposentada ficou em estado tão crítico que sequer conseguia se levantar sozinha da cama.
Felícia foi diagnosticada com dengue na segunda-feira da semana passada, na Unidade Básica de Saúde da região administrativa onde filha mora. Recebeu hidratação e foi autorizada a voltar para casa. Porém, tudo mudou três dias após o primeiro atendimento. A mãe vomitava muito, não conseguia se alimentar e nem ingerir líquidos. A situação foi se agravando e Felícia acabou internada, na última sexta-feira, no Hospital de Campanha (Hcamp) da Força Aérea Brasileira (FAB), em Ceilândia, onde recebeu alta nesta quarta-feira (3/4).
Renata contou ao Correio que Felícia estava voltando para casa, mas com muita fraqueza. "Eu fiquei com muito medo, ainda mais pela idade dela. Ela faz fisioterapia, pilates, é ativa e orientada, e costuma caminhar muito. Mas, nesses últimos dias não conseguiu nem se levantar sozinha da cama", lembrou a agente comunitária.
Júlia Fernandes, 21 anos, moradora do Guará, contou que — devido à dengue — teve algo grave: vômito com sangue, no último sábado (30). Por isso, acabou internada no HCAMP por três dias.
"Eu sabia que o sangue é um sinal de alarme, então, quando eu vi que estava sangrando, decidi procurar atendimento no hospital", explicou Júlia, agora melhor.
Nova arma
A SES-DF treinou 60 militares do exército para aplicar um novo tipo de inseticida — o aero system — contra a dengue em residências. A ação, complementar ao fumacê, pretende eliminar formas adultas do mosquito Aedes aegypti.
Segundo a pasta, cada soldado poderá realizar seu trabalho em até 80 casas, diariamente. Eles começaram a agir nesta quarta-feira (3/4), no Setor O, em Ceilândia.
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Cinco perguntas para
André Bon, infectologista, do Hospital Brasília, da rede Dasa no DF
É possível afirmar que a epidemia da dengue entrou em declínio no DF?
É possível que com a diminuição das chuvas, agora ao fim de abril, a gente tenha uma diminuição importante de casos. A gente precisa olhar o comportamento da curva epidemiológica nas próximas semanas para ter certeza de que está reduzindo. Agora não é possível afirmar isso, imediatamente.
O que é o chamado choque por dengue?
O choque da dengue é uma das formas graves de dengue. Ocorre devido à perda de líquido nos vasos sanguíneos. Isso leva a uma (situação de) pressão sanguínea muito baixa, o que eventualmente leva a óbito.
O que se deve fazer com pacientea em risco de choque?
Precisam de internação hospitalar e de hidratação venosa de acorodo com os volumes que são recomendados pelo Ministério da Saúde.