Mulheres pretas e pardas são o grupo populacional com maior registro de casos prováveis de dengue em 2024 no Brasil, de acordo com os dados do painel de monitoramento da doença do Ministério da Saúde (MS). Elas representam 25% dos brasileiros com suspeita da doença, somando 512,1 mil do total de mais de 2 milhões de casos prováveis de dengue, contabilizados até a tarde dessa quinta-feira (21/3).
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A Secretaria de Saúde do DF não tem os mesmos dados, porém, segundo o painel do ministério, na capital do país, mais da metade dos casos de dengue entre mulheres (55,1%) estão entre pretas e pardas. Uma delas é a vendedora Maria de Jesus, 41 anos. A moradora de Ceilândia Norte contraiu a doença no fim de fevereiro. "Começou com uma dor forte na cabeça, muita febre, diarreia e o paladar muito amargo", descreveu. "Foi a primeira vez que tive dengue. A sensação é muito ruim. Até hoje, parece que as dores na cabeça e no corpo ainda não foram embora. Na cabeça, por exemplo, a dor continua forte. Nunca senti isso antes", acrescentou.
Maria disse que teve muito medo durante o período em que esteve doente. "Também tive dores fortes no abdômen e os médicos me falaram que era para prestar atenção, porque se tivesse qualquer tipo de sangramento, teria que voltar para o hospital", lembrou. "Naquele momento, o que passava pela minha cabeça era que eu queria melhorar logo, para voltar à minha rotina e cuidar da minha família", desabafou.
Vulnerabilidade
Para o infectologista Gilberto Nogueira, a maior incidência de dengue — assim como grande parte das doenças infectocontagiosas — na população de mulheres pretas e pardas está ligada à vulnerabilidade e às condições socioeconômicas delas. "Isso se deve à menor acessibilidade à informação, medidas preventivas, educação em saúde. Além disso, elas estão mais expostas a maiores concentrações populacionais, maior número de pessoas residindo no mesmo domicílio, maior exposição a locais de água parada e contaminada, ambientes com acúmulo de lixo urbano e, por consequência, com maior presença de vetores", explicou.
Segundo o especialista, para mudar essa realidade, é necessário um olhar especial para essas pessoas, além de ações voltadas especificamente a esse grupo. "É claro que estamos falando de uma situação brasileira, que tem a raiz do problema totalmente relacionada à desigualdade que enfrentamos. Políticas públicas sociais e de saúde necessitam ser voltadas para isso", alertou Nogueira. "Algumas ações mais pontuais podem ser feitas de imediato, como a identificação dos principais locais onde moram essas mulheres pretas e pardas, realizando ações de combate aos focos, distribuição de repelentes, instalação de telas mosqueteiras e testagem para dengue nas sintomáticas", avaliou